“Dr., vou fazer uma cesárea e queria aproveitar para fazer uma plastica e já corrigir o abdômen!”
Esta é uma das dúvidas de quase todas as mulheres que vêem o seu corpo modificado depois de uma ou mais gravidez. A ansiedade e expectativa de ter o corpo de antes da gestação o mais cedo possível, juntamente com a comodidade de “aproveitar a mesma cirurgia” fazem desta pergunta uma questão quase lógica. Para respondê-la, precisamos analisar alguns fatos:
Primeiramente, o melhor a fazer durante uma gravidez é engordar o mínimo necessário. Na gravidez, a pele é esticada com uma velocidade muito alta. Em nove meses, ela sofre um estiramento que em toda a vida jamais sofreu. Isso leva a ruptura das fibras elásticas, o que resulta nas temidas estrias.
Logo, o melhor a fazer é minimizar ao máximo este estiramento, para que a pele sofra menos, seja menos lesada. Um peso saudável para a mãe e filho ganharem durante a gestação são 10 kg. Isso quer dizer, entre peso do filho, placenta, líquido amniótico, inchaço, são totalizados quase 8 kg, sobrando uns 2 de sobra de gordura.
Assim, depois do parto, fica fácil retornar ao peso anterior à gravidez, visto que na prática, a mãe engordou 2 kg apenas. Hidratar bem a pele do abdômen e das mamas torna a pele menos suscetível à ruptura das fibras elásticas, e, portanto, às estrias. Todo o ganho de peso além dos 8 kg (em uma gestação normal) é pura gordura, que nada ajuda no desenvolvimento do filho e apenas prejudica a mãe. Um grande sobrepeso, pode elevar a pressão sanguinea da mãe, aumentar a glicose do sangue e até levar à eclampsia, uma complicação gravíssima.
Infelizmente, são poucas as que têm a difícil determinação de controlar o peso e chegam ao final dos 9 meses com menos de 10 kg ganhos. A maioria chega com 15 kg, ou seja, 50% a mais do que precisaria. Para perder estes indesejáveis excedentes a luta é bem maior, ficando mais difícil a cada mês que passar. É como se o corpo acostumasse com a nova forma e tomasse o sobrepeso como o peso normal. Por isso é importante retornar ao peso pré-gestacional o mais rapidamente possível, sendo o ideal em até dois meses.
Sobre a associação de cirurgia plástica abdominal e ginecológica (nisso inclui-se a cesárea, a histerectomia, outras), precisamos ponderar alguns fatores. É sabido que o risco de trombose e infecção são maiores na associação destas cirurgias.
A trombose é a formação de um coágulo, geralmente nas veias das pernas, que se forma durante ou depois da cirurgia, por falta de circulação. Se este coágulo for parar no pulmão, passa a ser chamada embolia, uma complicação potencialmente fatal.
Outro fator importante é a recuperação de uma abdominoplastia requer cuidados, como não carregar peso, não fazer esforços, ficar levemente curvada, o que tornaria a amamentação bastante difícil e desconfortável. A musculatura do abdômen após o parto também se encontra fragilizada e mais flácida devido à distensão, dificultando a avaliação do grau da plicatura (“costura”) do músculo a ser realizada.
Como abdominoplastia é uma cirurgia para retirar a pele e flacidez do abdômen, tem melhores resultados em pacientes no peso ideal e sem excesso de gordura ou inchaço. Lembrando que a grande maioria das pacientes não chega ao parto com peso ideal, mas sim em excesso. Portanto, chega-se a conclusão que estas pacientes não teriam o melhor resultado possível, caso decidam fazer a cirurgia plástica na hora do parto.
Sendo assim, não vejo motivos plausíveis em associar a abdominoplastia e/ou lipoaspiração à cesárea, pois os riscos seriam maiores e o resultado pior do que se a plástica abdominal fosse realizada em tempos diferentes, com a paciente no peso ideal.
Creio ser mais sensato esperar retornar ao peso de antes da gravidez, recuperar do parto, parar a amamentação e assim operar com mais segurança, conforto e com o melhor resultado possível. Vale lembrar que o custo da cirurgia associada não seria muito diferente das cirurgias separadas, já que a plástica não tem cobertura pelo conveio, nem da parte hospitalar.